Autores: João Feijó e Rita Chiúre
Na sequência das eleições de 9 de Outubro de 2024, Moçambique viveu o período politicamente mais conturbado dos últimos 30 anos. A contrariar o anúncio, por parte do Conselho Nacional de Eleições, de uma vitória expressiva nas urnas do partido Frelimo, centenas de milhares de cidadãos moçambicanos saíram às ruas em protesto. As manifestações decorreram em todas as províncias do país, num crescendo de intensidade. No pico dos protestos, verificou-se uma paralisação das principais zonas económicas do país, não só em Maputo, mas também noutros pontos de Moçambique. Em Janeiro de 2025, numa tentativa de legitimação do novo governo de Moçambique, o presidente que tomou posse, Daniel Chapo, argumentou que a Frelimo constitui o único partido com representação a nível nacional e que, nas zonas rurais, “o povo ama a FRELIMO […], e a população não conhece mais ninguém senão a FRELIMO”.
Este texto realiza uma geografia dos protestos pós-eleitorais, demonstrando que decorreram em mais de metade dos distritos de Moçambique, com particular incidência nos principais centros urbanos do país, mas também nas zonas de penetração da indústria extractiva e nos corredores de transporte. A geografia do protesto permite concluir que o descontentamento popular constituiu um reflexo de políticas económicas herdadas dos programas de ajustamento estrutural, mas também de um modelo de desenvolvimento crescentemente extractivo e extrovertido da economia, estabelecido de forma rendeira para benefício das elites, e com reduzida integração no tecido económico local. A contestação aos resultados das eleições de 2024 fez emergir protestos em vários espaços do território, resultantes de problemas político-económicos específicos. Essas revoltas concentraram-se nos vários epicentros da economia moçambicana e constituíram uma reacção a um modelo de acumulação, produtor de desigualdade e de exclusão.
Abril de 2025