Autores: João Mosca e Thomas Selemane
As primeiras duas décadas deste século caracterizaram-se pelos seguintes aspectos principais: (1) Uma relativa reconfiguração da estrutura económica com o surgimento do sector mineiro, maior secundarização dos pequenos produtores e deterioração de infra-estruturas de transporte rurais e urbanas e respectivos serviços, (2) Apoderamento dos recursos naturais (terra, minas, gás, floresta, fauna bravia, pescas, etc.), com desestruturação do património natural, efeitos sociais e ambientais graves e repressão, no quadro de uma economia extractivista com limitados benefícios para a população dos locais de exploração e para o país, (3) Mais pobreza e desigualdades sociais e territoriais, migrações rural-urbano e rural-rural, emergência de uma juventude formada e desempregada e de um crescente lúmpen nas principais cidades, pouca criação de emprego, perda do poder de compra do salário mínimo, agravamento do acesso à saúde e educação com perda de qualidade, factores que constituem as razões principais da crise económica e social depois de meados da segunda década do século XX, (4) Alargamento da corrupção endémica nas instituições públicas e emergência de empresários-políticos e políticos-empresários sem ética, capacidade de gestão e de investimento, que se apoderam ou se tornam sócios de grandes investimentos através do domínio de posições políticas, (5) Conflito armado em Cabo Delgado que conjuga razões internas, externas e geoestratégias à escala mundial e sobretudo da costa índica de África e do canal de Moçambique, (6) Crise política e social após as eleições gerais de 2024, caracterizada, sobretudo, por manifestações que expressavam descontentamento e revolta da juventude, sobretudo nos centros urbanos motivado pela falta de emprego e ocupações geradoras de rendimento e, portanto, pobreza, indignação pelas desigualdade e manifestações exteriores de riqueza, má qualidade do ensino e dos serviços, entre outros aspectos, (7) O Estado foi classificado de “frágil” e “falido” ineficiente e, em alguns casos um Estado falhado.
Nota: Este é o segundo Destaque Rural de uma série de três que constituem o livro com o mesmo título.
Abril de 2025