Autor: José Jaime Macuane
O objectivo do presente texto é teorizar sobre as causas da conflitualidade em Moçambique, tendo como base o modelo económico e político adoptado após a guerra civil, no início da década de 1990. O argumento central é de que a crise dos arranjos políticos adoptados nessa década é uma das causas do aumento da conflitualidade.
O quadro de análise é de economia política, mais precisamente o pensamento sobre a ordem social e os arranjos políticos. Arranjos políticos são entendidos como a combinação do poder e das instituições, compatível e sustentável sob o ponto de vista da viabilidade económica e política (Khan, 2010, p.4). Segundo a abordagem dos arranjos políticos, sempre que um certo grupo na sociedade tiver uma distribuição de poder e recursos que percebe como sendo incompatível com o seu poder relativo na sociedade, há um alto potencial de conflito. Portanto, este grupo poderá despoletar conflitos, como forma de melhorar a sua posição relativa. Um elemento central nos arranjos políticos é a capacidade ou poder de sustentação (holding power), que se refere à capacidade de certos grupos de impor a sua vontade a outros, assim como de resistir a potenciais investidas de grupos adversários (Behuria, Buur e Gray, 2017; Khan, 2018). Os arranjos políticos têm três dimensões importantes: a vertical (as relações internas entre as elites dos nível central e local da mesma coalizão governante), a horizontal (as relações entre diferentes elites externas – governantes e não-governantes) e a económica (a forma de financiar esse arranjos políticos).
Agosto de 2024