Autor: Nelson Capaina
Um dos objectivos do governo para o desenvolvimento agrário no país, segundo vários instrumentos de políticas e estratégias sectoriais, tem sido aumentar a produção e produtividade agrícolas para garantir a auto-suficiência alimentar. No contexto geral, são enormes as dificuldades para alcançar tal desiderato. Este objectivo governamental pode não convergir com os objectivos dos pequenos produtores que, por exemplo, podem passar pela redução dos custos de produção e aumento de renda monetária.
Este é o caso do arroz, em que não se encontra um correspondente entre os investimentos anunciados e positividade nos resultados obtidos. É o caso do delta do Zambeze que, pelo menos nos últimos 20 anos, directa ou indirectamente, beneficiou de investimentos na cadeia de valor deste cereal, nomeadamente na produção, processamento e comercialização. Através de parceiros de cooperação, foram reabilitados sistemas de regadio, construídas unidades de processamento, apoiadas linhas de comercialização, entre outras iniciativas. De maior produtor nacional de arroz e com potencial agrícola na produção deste cereal, a Zambézia vai cedendo a sua posição para outras províncias. O que estará a acontecer? Quais são as razões para a ocorrência do cenário encontrado?
Este texto pretende abordar estas questões, tendo como exemplo o delta do Zambeze, região que secularmente foi a maior produtora da Zambézia, reforçando a posição primordial desta província na produção nacional. No mesmo, vai-se observar que os sistemas de irrigação estão parcial e/ou totalmente paralisados empurrando o pequeno produtor para um padrão de produção concentrado no sequeiro, retirando a este produtor a possibilidade de maior produtividade. Esta situação é agravada pelas fracas conexões entre estes principais produtores deste cereal na província e as iniciativas sobre infra-estruturas de processamento, incluindo os mecanismos para adopção de sementes melhoradas.
Junho de 2024