Autor: Nelson Capaina
O uso de ecossistemas locais pelas comunidades para exploração de seus recursos levanta aspectos de acção colectiva devido à natureza: a) das interacções que ocorrem entre os indivíduos e o ecossistema; e, b) das instituições que gerem os direitos e deveres das pessoas residentes e envolvidas. O presente texto pretende mostrar como o modelo de gestão adoptado no Parque Nacional do Gilé pode ser um incentivo para a não-participação das famílias locais nos desideratos sobre áreas de conservação. O mesmo indica que foram desenvolvidos instrumentos de apoio à gestão do Parque, mas, as famílias locais cumprem as normas porque estão numa situação em que são impelidas a aceitar. São exemplos disso, a composição e funcionamento dos dois órgãos da estrutura de gestão nesta área de conservação que sugere uma situação em que os povoados são meros espectadores num processo de despossessão dos “proprietários” seculares dos recursos naturais-alvo da conservação; e a priorização da força de trabalho contratada noutras regiões do país, em detrimento da mão-de-obra local, circunstância que impulsiona o sentimento de repulsa que existe nas famílias da zona tampão relativamente à gestão da administração do Parque, associando-se ao que se pensa ser uma estratégia de lhes retirar o uso dos recursos tradicionalmente aproveitados.
Janeiro de 2023