Autora: Máriam Abbas
No passado dia 1 de Março de 2023, o Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, referiu num encontro com o Director Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em Roma, que em Moçambique “90 por cento da população tem alimentação segura, ou seja, já consegue ter três refeições por dia”, o que coloca o país fora dos países em risco de fome.
Este texto tem como objectivo fazer uma análise da situação de segurança alimentar no país face os discursos mais recentes. Pretende-se ainda fazer algumas reflexões sobre os cuidados a ter quando se analisa a segurança alimentar e reflectir sobre as políticas públicas e até que ponto estas respondem aos objectivos de redução da fome.
Os dados analisados, de relatórios disponíveis e estudos em curso, não permitem corroborar o discurso proferido, ao mostrar que existe ainda uma percentagem significativa da população extremamente vulnerável à insegurança alimentar crónica e aguda. Não existe ou não foi divulgado ainda, um relatório ou estudo de base, aprofundado, que permita analisar com base em metodologias próprias a fundamentação deste discurso.
Portanto, é necessário reflectir: como chegámos aos 90%? Que dados fundamentam o discurso? Qual a metodologia utilizada? O que se considera uma refeição? Será que essa refeição satisfaz as necessidades alimentares do indivíduo, promovendo uma dieta equilibrada e nutricionalmente adequada, em quantidade e qualidade, aceitável no contexto cultural, para satisfazer as necessidades e preferências alimentares, para uma vida saudável e activa do indivíduo?
A análise da segurança alimentar é complexa e deve ser feita com cautela, uma vez que esta pode ser analisada a vários níveis (por exemplo, ao nível do agregado familiar ou do indivíduo), medida de várias formas e através de vários indicadores. Pelo que, vários factores podem influenciar os resultados das análises e, por isso, estes devem ser ponderados, interpretados com cautela, sendo ainda necessário considerar o contexto em que se insere a população. Mais ainda, estes não devem ser utilizados como forma de propaganda política, sem que se conheça os fundamentos e as metodologias utilizadas.
Março de 2023