Autores:Natacha Bruna
, Boaventura Monjane
e Euridse Samuel
A política económica em Moçambique tem-se centrado em transformar o país num receptor de Investimento Directo Estrangeiro que se engaja num esquema de extrair-escoar-exportar que, embora resulte em taxas elevadas de crescimento, falha em proporcionar a melhoria do bem-estar da população (Mosca, Abbas e Bruna, 2016; Castel-Branco, 2010). Mas com a emergência da crise climática global, surge a necessidade de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). E o mercado de carbono, que consiste na compra e venda de créditos de carbono, emerge como uma das recomendações do Protocolo de Kyoto. Estes créditos permitem que os compradores continuem a poluir o equivalente em toneladas de carbono. Por sua vez, a captação de carbono acontece através de diferentes projectos de mitigação às mudanças climáticas baseados na terra, nomeadamente áreas de conservação, plantações florestais, produção de biocombustíveis, entre outros. Ou seja, nota-se um grande interesse económico escondido por detrás de interesses ambientais.
É neste contexto que este artigo procura sublinhar um novo constituinte na corrida aos recursos naturais em Moçambique: carbono. Como mostra o caso de Nhambita na zona tampão do Parque Nacional da Gorongosa, este novo recurso é resultante da implementação de projectos “verdes” que na realidade envolvem custos sociais e riscos à subsistência rural. No entanto, verifica-se que existem múltiplos actores que lucram com a venda de créditos de carbono captados em países de alto potencial de biodiversidade e baixa pegada ambiental, como é o caso de Moçambique. Enquanto que, países industrializados compram esses créditos de carbono e continuam a poluir e a gerar riqueza com base na extração e expropriação de direitos de emissão e recursos ecológicos de países não industrializados.”
Data :Setembro de 2021