Autora: Máriam Abbas
A crise alimentar é um problema global, evidenciando-se sobretudo nos países em desenvolvimento, onde a agricultura é a principal fonte de subsistência. É neste âmbito que a biotecnologia, e em particular a engenharia genética, tem sido referida nos discursos políticos como uma área de grande potencial para a resolução de vários desafios da sociedade moderna e das comunidades rurais, com particular enfoque para aqueles ligados ao sector de agricultura. Promove-se cada vez mais a produção de culturas geneticamente modificadas (GM) como forma de responder ao desafio de aumento da produção alimentar e da melhoria de segurança alimentar. Em Moçambique, o cenário não é diferente. Recentemente foi divulgado pelo IIAM, que já existem variedades de milho geneticamente modificado prontas para libertar ao ambiente (ou seja, fora dos campos confinados). De acordo com os discursos governamentais e das instituições envolvidas nos projectos relacionados, Moçambique deve optar e apostar nas sementes GM para a produção de alimentos, como forma de reduzir o problema da escassez de alimentos.
É neste âmbito que o presente Destaque Rural pretende reflectir sobre os impactos da produção de culturas geneticamente modificadas no país e, em particular, nos pequenos produtores. O debate que se coloca é até que ponto as sementes GM são apropriadas ao contexto moçambicano, em termos socioeconómicos, e até que ponto visam responder às necessidades dos pequenos agricultores? Casos em outros países, como a África do Sul, mostram que nem sempre esta é a opção mais viável para os pequenos produtores, beneficiando maioritariamente produtores de grande escala. Daí que, a introdução de sementes GM para a produção de alimentos deve ser estudada com cautela. Se por um lado, levantam-se questões relativas ao impacto na saúde pública e ao ambiente (não estudados neste texto), por outro lado, levantam-se a questão relativamente ao impacto na vida, subsistência e segurança alimentar dos agricultores familiares.
Junho de 2024