Autor: Nehemias Lasse
Ao nível global tem-se observado na zona costeira uma acelerada degradação de terras aráveis associada maioritariamente à intrusão salina, facto que se reflecte no aumento da vulnerabilidade das populações, principalmente nos países em desenvolvimento. Em Moçambique, em várias bacias hidrográficas, tem-se observado este fenómeno, exacerbado pelas alterações climáticas, afectando as populações que têm a terra como o principal recurso para a subsistência e geração de rendimento. Nesse contexto, o presente estudo tem como objectivo, avaliar a vulnerabilidade dos pequenos agricultores à intrusão salina e seus determinantes e identificar as opções locais de adaptação, utilizando um modelo de meios de subsistência sustentáveis. O estudo, foi realizado na província de Gaza, em seis Postos Administrativos dos distritos de Limpopo (Zongoene e Chicumbane), Xai-Xai (Chilaulene-Sede), Chongoene (Chongoene-Sede), e Chibuto (Malehice e Tchaimite), abrangidos pelo Regadio do Baixo Limpopo (RBL), envolvendo agricultores que produzem ao longo do vale do rio desde a foz até 100 km para o interior. Foram aplicados inquéritos à 150 agregados familiares (AFs) e 18 entrevistas a informantes-chave de actores governamentais, não governamentais, líderes comunitários e agricultores. Os resultados indicam que os agricultores localizados nas proximidades do mar (Chilaulene e Zongoene) apresentam vulnerabilidade alta à intrusão salina, associada principalmente à alta exposição (ocorrência de eventos climáticos extremos e variabilidade climática), alta sensibilidade (indisponibilidade anual de água de rega) e baixa capacidade adaptativa, associada principalmente ao baixo capital financeiro dos agricultores. Face à intrusão salina, os pequenos agricultores adoptam estratégias associadas ao capital tecnológico (diversificação de culturas, produção fora do vale do Limpopo, incorporação de material orgânico no solo, etc.), entretanto, com alguma limitação no que concerne às medidas infra-estruturais (manutenção de comportas de contenção da intrusão salina, limpeza de valas de drenagem). Neste contexto, recomenda-se aos agricultores a intensificação na adopção de medidas de gestão de solo e de água com vista a melhorar a estrutura e fertilidade do solo, assim como medidas de uso sustentável de recursos naturais costeiros (mangais e floresta nas dunas), que servem como barreiras naturais à intrusão salina. Aos actores de desenvolvimento, recomenda-se a promoção de sistemas de produção integrados na agricultura (ex: pecuária), promoção de culturas e práticas culturais com maior tolerância à salinidade e com valor económico (arroz, batata-doce, beterraba, cana-de-açúcar, etc.), com vista a fortalecer e diversificar as fontes de rendimento dos pequenos agricultores.
Junho de 2025