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OR # 137 Após o ciclone idai, as inundações: narrativas e lições de um desastre (in)esperado e “excepcional” (English version available)

Autora: Uacitissa Mandamule

RESUMO

Quando, em Março de 2019, começaram os avisos meteorológicos sobre a aproximação, ao Canal de Moçambique, de um ciclone que seria devastador, localmente não se tinha uma ideia clara dos reais estragos que provocaria. Tratava-se do Idai. Este ciclone foi considerado, por uns, o maior desastre na história do país, após as cheias de 2000, e, por outros, o pior desastre que se abateu sobre o sudoeste do Oceano Indico nas últimas duas décadas. Os fragmentos da destruição provocada pela combinação de ventos fortes e inundações calcorreiam, até hoje, a paisagem das regiões afectadas e a memória das pessoas que vivenciaram aqueles eventos extremos. Através de relatos recolhidos em entrevistas aprofundadas com as pessoas directamente afectadas, questionamo-nos porque, mesmo tendo a população e instituições sido avisadas, não estavam preparadas para o desastre. Na companhia de pessoas afectadas, percorremos os caminhos usados durante a emergência, visitámos os locais de refúgio e os novos bairros de reassentamento na localidade de Guara-Guara, para onde fora enviado um número considerável de pessoas deslocadas da vila de Búzi e da localidade de Bândua. Se, por um lado, o retorno de experiência revela que, em grande parte, foram o conhecimento dos eventos passados e a desconfiança nas instituições que levaram à minimização do risco, por outro, evoca-se uma crise de solidariedade horizontal entre as pessoas afectadas, bem como uma “exploração selvagem” do desastre por algumas pessoas. Volvidos quatro anos, o distrito de Búzi debate-se ainda com o desafio da recuperação e reconstrução de infraestruturas públicas e de habitações individuais na vila e em alguns bairros de reassentamento. A redução da vulnerabilidade aos eventos climáticos extremos que continuam visitando aquele distrito é ainda um desafio, sendo necessário actualizar o mapeamento das zonas de risco e melhorar a participação comunitária na redução do risco de desastres.

Palavras-chave: Ciclone Idai; inundações; riscos climáticos; desastres; deslocação e reassentamentos populacionais.

ABSTRACT  

When, in March 2019, meteorological warnings began about the approach to the Mozambique Channel of a cyclone that would be devastating, locally there was no clear idea of the real damage it would cause. It was Idai. This cyclone was considered by some to be the biggest disaster in the history of the country after the floods of 2000 and by others the worst disaster to hit the southwest Indian Ocean in the last two decades. The fragments of the destruction caused by the combination of high winds and floods are still present in the landscape of the affected regions and in the memories of the people who experienced these extreme events. Through reports collected in in-depth interviews with the people directly affected, we questioned ourselves why, even though the population and institutions had been warned, they were not prepared for the disaster. Accompanied by affected people, we walked the paths used during the emergency, visited the places of refuge and the new resettlement areas in the locality of Guara-Guara, where a considerable number of people had been sent from the village of Búzi and the locality of Bândua. While, on the one hand, the feedback reveals that it was largely the knowledge of past events and distrust in institutions that led to the minimization of risk, on the other hand, a crisis of horizontal solidarity among the people affected is evoked, as well as the “savage exploitation” of the disaster by some people. Four years later, the district of Búzi is still struggling with the challenge of recovering and rebuilding public infrastructure and individual homes in the village and some resettlement areas. Reducing vulnerability to the extreme weather events that continue to visit that district is still a challenge, and it is necessary to update the mapping of risk zones and improve community participation in disaster risk reduction.

Keywords: Cyclone Idai; floods; climate risks; disasters; displacement and population resettlements.

Maio de 2023

Mês

Maio

Ano

2023

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