Autor: João Feijó
A intensificação de uma guerra não convencional na província no Norte de Moçambique traduziu-se numa ampla violência contra civis. Por serem fisicamente mais frágeis, por constituírem alvo da predação sexual de jovens armados e por serem, tradicionalmente, produtoras de alimentos, durante conflitos armados as mulheres constituem um alvo recorrente, permanecendo numa posição particularmente vulnerável. Na sequência do conflito que se desenrola no Norte de Cabo Delgado, as mulheres apresentam-se vulneráveis à insegurança alimentar, sendo vítimas de agressões e sequestro por grupos insurgentes, destruição de património, agressões físicas e assassinatos, violações sexuais, raptos e impossibilidade de acesso à justiça.
Contudo, encarar as mulheres apenas como vítimas passivas do conflito não capta a complexidade da situação. De forma voluntária ou forçada, por convicção ou sem alternativa, por revolta ou oportunismo, buscando protecção e vantagens económicas, grupos de mulheres desempenham um papel activo no conflito militar, participando como observadoras e fornecedoras de informações, no fornecimento de apoio logístico e camuflagem, como recrutadoras, vigilantes e, inclusivamente, como guerrilheiras. Neste Observador Rural demostra-se como sentimentos de injustiça social são explorados por grupos insurgentes como estratégia de recrutamento e adesão. A inversão deste ciclo vicioso constituirá o maior desafio do Governo, das organizações humanitárias e da sociedade civil, devendo para tal apostar no investimento massivo na formação e na inclusão económica das populações afectadas, especialmente das mulheres, inclusive no contexto da ajuda humanitária.
English
The intensification of an unconventional war in Cabo Delgado Province in Northern Mozambique has translated into widespread violence against civilians. Being physically weaker, a target for sexual predation by armed youth, and traditionally a food producer, women are a recurrent target during armed conflict and remain in a particularly vulnerable position. Following the ongoing conflict in northern Cabo Delgado, women remain vulnerable to food insecurity, being victims of aggression and kidnapping by insurgent groups, destruction of property, physical attacks and killings, rape, abductions, and lack of access to justice.
However, viewing women only as passive victims of the conflict does not capture the complexity of the situation. Voluntarily or forcibly, by conviction or without alternative, by revolt or opportunism, seeking protection and economic advantages, groups of women play an active role in the military conflict, participating as observers and providers of information, in providing logistical support and camouflage, as recruiters, vigilantes, and even as guerrillas. This article demonstrates how feelings of social injustice are being exploited by insurgent groups as a recruitment and membership strategy. Reversing this vicious cycle will be the biggest challenge for the government, humanitarian organizations, and civil society”
Data: Maio de 2021