Autor: João Mosca
O campesinato tem sido, ao longo de séculos, uma classe social explorada (no sentido do seu empobrecimento e extracção de recursos – trabalho e excedentes produtivos), seja por via da escravatura, trabalho forçado/obrigatório, assalariamento e semi-assalariamento, seja pela extracção de excedentes e venda de produtos a preços baixos e integração perversa no mercado. No âmbito das comunidades, aos camponeses são retirados recursos fundamentais para a reprodução e sustentabilidade dos sistemas de produção, como a terra (e a fertilidade dos solos), as florestas, a fauna bravia, etc. Isto é, além da extracção de valor e de recursos, o predadorismo dos recursos naturais desestrutura os sistemas de produção, cria pobreza que força a migrações, com consequente geração de sistemas de produção insustentáveis devido às densidades populacionais crescentes em determinadas zonas, e sobreexploração de recursos naturais como estratégia de sobrevivência. Os camponeses considerados guardiães da natureza, tornam-se predadores dessa natureza quando em contexto de pobreza e de “entrantes” em novas realidades e espaços territoriais.
Os camponeses, em cada contexto, demonstraram optar por estratégias de integração e resistência a medidas políticas e ideológicas dos poderes “a partir de cima” e à penetração do capital nas suas diversas formas de actuação. Os processos de diferenciação económica, regra geral, foram impostos por propósitos políticos, de funcionalidades e de vantagens económicas para os sistemas políticos e económicos de cada período, assentaram, regra geral, na potenciação das estratificações clânicas e étnicas pré-existentes, que, simultaneamente, aumentaram essas diferenças com bases materiais e económicas introduzidas pelos regimes e pelo capital, e com reforço dos poderes locais através de relações com o Estado, acesso a recursos, aumento das manifestações com base em simbolismos e representatividades sociais.
Data: Abril de 2021