Autor: João Feijó
Desde finais de 2017, a província de Cabo Delgado, no extremo Norte de Moçambique transformou-se num palco de violentos conflitos armados. Se nos primeiros meses o conflito esteve confinado às zonas da costa maioritariamente islâmicas e caracterizadas por um longo historial de exclusão nos anos seguintes assistiu-se a uma maior capacidade de penetração para o interior e para Sul. partir de 2020, com o ataque e ocupação de quatro sedes distritais e perante a ameaça à capital provincial Pemba, o conflito passou a merecer maior atenção por parte da media internacional.
Na tentativa de explicação do conflito emergiram diversas hipóteses. Focando os aspectos internos do conflito, foram considerados fenómenos de pobreza e de frustração de expectativas sociais relacionadas com a exploração de recursos naturais, sobretudo entre a juventude local, consolidando-se uma economia extractivista, sem relação com o tecido económico local e pouco geradora de emprego. Por outro lado destacaram-se os históricos conflitos etnolinguísticos na região, sobretudo entre os povos da costa e do interior. Outras abordagens enfatizaram as dimensões internacionais do conflito, nomeadamente o relacionamento com células terroristas da África Oriental; ou com a confluência de diversos interesses económicos no Canal de Moçambique, relacionados não só com o controlo de um corredor energético, mas também de rotas ilegais de droga, madeiras e marfim.
Nesta contribuição para a Security Series, João Feijó reflete sobre os aspectos internos que estão na origem das tensões militares no Nordeste de Cabo Delgado, relacionados com fenómenos de pobreza e de assimetria socioeconómica, mas também com a reconfiguração de relações de poder entre grupos etnolinguísticos.
No estudo demonstra-se a existência de uma pobreza generalizada na província de Cabo Delgado, transversal a todos os grupos etnolinguísticos, não obstante nos centros urbanos e no planalto maconde se registarem, ligeiramente, melhores condições habitacionais e acesso a determinados bens de consumo.
Data: Maio de 2021