Autores: João Mosca
Resumo: O texto resulta da interpretação de casos/experiências em curso nos últimos 20 anos antes da independência, que resultaram em elevadas produções de bens alimentares que satisfizeram o crescente mercado interno e se exportou, por exemplo, milho.
A dinamização da produção de milho foi incentivada com a criação de necessidades acrescidas nas famílias através da rede rural (as “cantinas”), implantadas no território, segundo o potencial produtivo e estradas. A produção de milho aumentou continuamente e iniciou-se um sistema de crédito dos comerciantes aos maiores produtores familiares, sobretudo de sementes e de sacaria para embalagem do cereal, e, posteriormente, de fertilizantes. O crédito era pago em espécie. Alguns comerciantes tinham tractores e atrelados como forma de aproximar vendedores e compradores. Os excedentes de milho conduziram ao surgimento de uma indústria moageira, a princípio, de pequena escala, e, depois, uma grande unidade e muitas pequenas moagens distribuídas no território. A produção da maior fábrica era vendida na capital provincial, sendo o distrito autossuficiente através das moageiras de menor dimensão. Seguiu-se a indústria de rações para aproveitamento do farelo extraído na farinação da maior fábrica. Depois, a pecuária intensiva para o consumo de parte das rações vendidas em capitais provinciais vizinhas. O tecido produtivo complexo e da cadeia de valor de milho, emergiu de um processo económico e social “a partir de baixo”, em sequencial/gradual de actividades menos para mais complexas e, finalmente, as relações intersectoriais (agricultura, comércio, indústria agroalimentar e finalmente os transportes) e com o exterior (capitais provinciais).
Este processo envolveu, de formas diferentes muitos agentes económicos locais (milhares de pequenos produtores, comerciantes, moageiros, transportadores), num processo de acumulação diferenciado, mas de base social alargada, e reinvestimento local, e, por outro lado, acelerou-se o processo de diferenciação social por via da acumulação em função dos volumes de produção comercializada. Esta diferenciação assentou nos grupos de famílias de determinados clãs/famílias da aristocracia local que, por sua vez, foi a base social da extensão local das instituições do Estado.
Neste processo, o Estado assegurava: (1) a construção de estradas e de pontes entre as principais subdivisões administrativas, muitas construídas com material local, possuindo, a nível local, máquinas pesadas para a manutenção das mesmas (2); os postos de saúde e as escolas primárias foram sendo construídos, embora com baixa cobertura.