Autor: Luís Artur
O mundo está a testemunhar movimentos sem precedentes. Uma combinação de eventos extremos associados a mudanças climáticas acoplados a conflitos militares e violência aumentou o número de deslocados e espera-se que esta tendência migratória se mantenha e se expanda ao longo dos próximos anos. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) totalizou, em 2023, ao nível mundial, cerca de 117 milhões de deslocados sendo 68.3 milhões de deslocados internos numa tendência crescente ao longo dos últimos 12 anos. Em relação a eventos climáticos extremos estima-se que, em média, 21.9 milhões de pessoas são anualmente deslocadas por estes eventos tendo este número sido quebrado em 2022 que registou 31.8 milhões evidenciando, igualmente, as tendências crescentes de deslocados por eventos climáticos extremos. Em Moçambique, a ACNUR refere que o número de pessoas deslocadas internamente quer por conflito no norte do país quer por eventos climáticos extremos, totalizava, em Maio de 2024, cerca de 700 mil (582,764 devido ao conflitos em Cabo-Delgado e 126,305 devido a eventos climáticos extremos) enquanto cerca de 24 mil eram refugiados provenientes de países como Congo, Burundi, Ruanda e Somália. Estas movimentações são potenciais geradoras de conflitos quer por diferenças socioculturais quer pela competição pelo acesso e uso de recursos para garantir a sobrevivência. Este artigo olha para conflitos existentes derivados dos deslocamentos de comunidades por força dos eventos climáticos extremos. Os resultados mostram que os conflitos não se circunscrevem apenas a deslocados e comunidades hospedeiras; existem, nestes contextos, conflitos entre os deslocados entre si, entre as comunidades hospedeiras entre si, e entre todos eles sendo que uns são mais abertos e outros mais fechados. As conflitualidades registam-se também no acesso e uso de discursos, e na aceitação de percursos. Por outro, os resultados mostram que as relações entre os diferentes intervenientes não são apenas as de competição; existem complexas relações que incluem também o mutualismo, o comensalismo, o amensalismo e o parasitismo.
Agosto de 2024
